Segundo a Vulgata, seu nome seria Elisabeth, do hebraico “Eliseba”, significando Deus
- plenitude. Dos Evangelistas, somente Lucas a ela se refere, assinalando ser descendente de Arão. Esposa do sacerdote Zacarias, com ele vivia, provavelmente, na aldeia serrana conhecida nos dias recentes como São João da Montanha, situada em Ain-Karim, cerca de 7 km. a oeste de Jerusalém.
Como toda mulher, em Israel, deve se ter casado entre os 12 e 12 anos e meio. Embora não fosse aconselhado que à menina fosse ensinada a Lei e as tradições, no relato de Lucas se reconhece que Isabel conhecia os textos sagrados.(Lucas, 1: 43)
Ainda que, em Israel, a mulher ocupasse lugar de subalternidade – pois os textos previam que ela se devia ocupar dos filhos, da casa, chegando a especificar a quantidade mínima de lã ou linho que ela deveria fiar ou tecer por semana, e onde devia, inclusive, aceitar que seu marido dividisse sua afeição com outras mulheres, fossem esposas ou concubinas, – não se pode descartar a existência do amor conjugal.
Desta forma, ao se ler a respeito de Isabel e Zacarias, conclui-se que o casal vivia a monogamia, mesmo porque, a poligamia era rara, em Israel, em primeiro lugar por razões econômicas. Embora as leis rígidas quanto à mulher, não é raro se encontrar o amor transfigurando todas as leis, bastando se leia no Antigo Testamento tantos casos de homens que amaram intensamente suas mulheres, a elas se entregando em totalidade.
- de supor, pois, que o casal Isabel e Zacarias, citados por Lucas como “justos diante de Deus, caminhando irrepreensivelmente em todos os mandamentos e preceitos do Senhor” vivia a aura do respeito, dedicação e amor mútuos.
Difícil é se imaginar qual seria a idade de ambos, tidos como avançados em anos, ao tempo em que Isabel, assinalada como estéril, veio a conceber, visto que a idade era contada de forma diversa da atual, tanto quanto considerando-se que o homem se consorciava aos 18, a mulher antes dos 13 anos.
Isabel, dias após a visita do mensageiro espiritual Gabriel a seu marido Zacarias, no Templo, concebeu. Relata ainda o Evangelista que durante 5 meses ela permaneceu escondida, crendo que sua gravidez era uma graça que recebera do Senhor, que assim a reabilitava perante os homens, em face da importância dada à geração de filhos.
Isabel é citada como prima de Maria, a mãe de Jesus, embora haja ocasiões em que simplesmente a ela se referem como parenta de Maria. Essa, tão logo recebe a notícia de que será mãe do Filho de Deus, e que sua prima igualmente concebera, encontrando-se no sexto mês de gravidez, a vai visitar.
A viagem deve ter durado de 4 a 5 dias e o Evangelista omite detalhes como Maria se deslocou até lá. O que a movia, com certeza, não era verificar se verdadeiramente estava grávida sua prima, senão o intuito de a auxiliar, naqueles meses. Igualmente, o desejo de felicitar a prima pela grande mercê que Deus lhe acabara de fazer.
- porta do jardim, Isabel é a primeira a avistar Maria e lhe corre ao encontro, de braços abertos. Prostra-se reverente aos pés de Maria e a saúda com as palavras: “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre. E donde me provém isto a mim, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor?”
E explica que, tão logo a voz de Maria cumprimentando-a, à distância, chegou aos seus ouvidos, o menino exultou de alegria em seu ventre. Dois detalhes importantes: Isabel estava plenamente ciente da visão do marido e aqui se permite ser a médium de manifestação espiritual.
Conforme os Evangelhos, ela ficou “cheia de um Espírito Santo” e os estudiosos afirmam que o próprio Elias que estava a se reencarnar naquele ventre, é que por ela falou.
Ele sabia de tudo o que estava ocorrendo e tinha visão espiritual ampla, mesmo porque Isabel não poderia de outra forma estar ciente da gravidez de Maria, que não tinha nem um mês, e portanto não aparecia externamente.
Esta explicação da consciência do espírito ainda no seio materno é dada por estudiosos como Orígenes, considerado um dos pais da Igreja, e mais Tertuliano, Irineu, Ambrósio e o teólogo Suarez.
Conclui Isabel, por si mesma, abençoando Maria porque nela se cumpriram as promessas antigas de Yaweh e também por que ela deu crédito ao anjo que lhe participara a notícia.
Tendo dado à luz um menino, o fato causou grande alegria e alvoroço entre a parentela e a vizinhança.
No oitavo dia, o menino foi circuncidado. O rito da circuncisão podia ser desempenhado por qualquer israelita e na residência dos pais. Em todas as localidades havia o Mohel, a pessoa habilitada para essa delicada operação no recém-nascido.
Pelo que se depreende do Evangelho de Lucas, o fato se deu em casa, porque Isabel estava presente, e conforme a Lei a mulher não podia sair à rua antes de transcorridos 40 dias do parto, se tivesse dado à luz um varão. O prazo era contado em dobro, caso o nascituro fosse do sexo feminino.
No ato da circuncisão, Isabel interfere, pois se pretende dar o nome do pai ao menino. Causa estranheza a anotação de Lucas, pois não era costume tal, entre o povo de Israel, evitando criar confusão entre pai e filho, com nome idêntico. Talvez porque Zacarias fosse idoso, imaginaram que não poderia haver tal confusão. Ele morreria, possivelmente, em breve.
Mas a mãe não é bem ouvida pelos que ali estavam. Primeiro, porque a mulher não poderia sugerir nome para o filho; segundo, porque o nome que ela sugere, João, não existia na família.
Enfim, é o pai, Zacarias que, consultado, escreve em uma tabuinha, o nome João, atendendo ao mensageiro que o visitara, no altar do Templo, há pouco mais de 9 meses.
Após a circuncisão do filho, não mais se ouve menção nominal a Isabel. Talvez estivesse inclusa entre aquelas citadas por Lucas (8, 1 ss) que seguiam Jesus: “… Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; e Joana, mulher de Cusa, procurador de Herodes e Suzana e muitas outras que o serviam com suas fazendas.”
Talvez tenha desencarnado algum tempo depois, antes mesmo do filho se tornar o Precursor do Cordeiro de Deus.
De toda forma, uma coisa é certa: como todas as grandes almas, ela serviu na humildade e, cumprida a sua tarefa, dar a luz ao menino que aplainaria as veredas do Senhor, sai de cena. Palpável é a certeza, contudo, de que, como José, Maria, Zacarias era uma grande alma, plenamente cônscia de sua missão, que cumpriu de forma integral.
Bibliografia:
01.BÍBLIA, N.T. Lucas. Português. Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica, 1966. cap. 1, vers. 5-25, 39-45, 57-65.
02.PASTORINO, Carlos Torres. Nascimento de João. In:___. Sabedoria do evangelho. Rio de
Janeiro: Sabedoria, 1964. v. 1.
03.______. Visita a Isabel. Op. cit.
04.______. Zacarias e Isabel. Op. cit.
05.ROHDEN, Huberto. A aurora da redenção. In:___. Jesus Nazareno. 6. ed. São Paulo: União Cultural. v. I, pt. 1, cap. 2.
06.______. O anjo do deserto. Op. cit. cap. 4.
07.ROPS, Daniel. Família, “Meus ossos e minha carne”. In:___. A vida quotidiana na Palestina
no tempo de Jesus. São Paulo: Livros do Brasil. pt. 2, cap. 2, item 6.
08.SALGADO, Plínio. Zacarias e Isabel. In:___. Vida de Jesus. 21. ed. São Paulo: Voz do Oeste,
1978. pt. 1, cap. 4.
09.SAULNIER, Christiane; ROLLAND, Bernard. A sociedade judaica. In:___. A Palestina no
tempo de Jesus. São Paulo: Paulinas, 1983. item A mulher.
10.VAN DER OSTEN, A . Isabel. In:___. Dicionário enciclopédico da bíblia. 3. ed. Petrópolis:
Vozes, 1985
(Fontes: Matéria publicada no Jornal Mundo Espírita – fevereiro/2005 e http://www.feparana.com.br/biografia.)
Biografia extraída do site da FEB: https://www.febnet.org.br/portal/wp-content/uploads/2019/07/Elizabeth-ok.pdf