Procedente de uma das mais ilustres famílias do Brasil, que teve origem no então tenente da cavalaria Leonel da Gama Bellens, natural de Campo Maior, província de Alentejo, Portugal, o qual, em 03-05-1690, se casou com D. Maria Josefa Corrêa, com grande geração, principalmente no Estado de Minas Gerais, como os Almeida da Gama, ramo de que saiu José Basílio da Gama (autor de “Uruguai” o poema mais notávei do Brasil-Colônia), nasceu Zilda Gama, em 11 de março de 1878, em Três Ilhas, no município de Juiz de Fora, filha de Augusto Cristiano da Gama, escrivão de paz, e de Elisa Emília Klõrs da Gama, nascida em Vassouras, RJ, de pai alemão e de mãe mineira de São João del-Rei.
Era, como sua mãe, professora pública, diplomada pela Escola Nacional de São João del-Rei, MG. Exerceu o magistério no município de Além-Paraíba, tendo assumido, por várias vezes, a direção dos Grupos Escolares Castelo Branco e Sales Marques, na mesma cidade, após ter obtido duas promoções. Em 1929, tendo a Secretaria de Educação de Minas Gerais posto em concurso aulas-modelos, obteve o primeiro lugar na classificação oficial e foi inscrita na Escola de Aperfeiçoamento de Belo Horizonte, onde concluiu o curso, a 6 de dezembro de 1929.
Em 1927 tomou parte no Congresso de Instrução, como membro permanente; e em 1931, no Congresso Feminino presidido pela Doutora Elvira Komel, apresentou uma tese sobre o direito do voto feminino, que, pouco tempo depois, teve a aprovação oficial.
Passando a residir em Belo Horizonte, continuou a exercer o magistério primário, agora no Grupo Escolar Afonso Pena, daquela cidade, até 1938, ano em que se aposentou. Era culta, e, jovem ainda, colaborou, com poesias e contos, em vários jornais de Juiz de Fora, Ouro Preto, São Paulo e Rio de Janeiro, dentre eles o “Jornal do Brasil”, a “Gazeta de Notícias” e a Revista da Semana, periódicos da então capital da República.
Zilda Gama foi, porém, grande sofredora, tendo sido duramente provada com os testemunhos que foi chamada a apresentar às leis de Deus. No espaço de cinco meses, pelo ano de 1903, desencarnaram os pais, e como a sua irmã primogênita desencarnara em 1901, ela foi, por isso mesmo, chamada a assumir o governo da família, contando, apenas, vinte e quatro anos de idade. Criou e educou os 5 irmãos menores, tomados órfãos qual ela própria, e mais tarde, 1920, cinco sobrinhos, filhos de sua irmã Adélia, também tomados órfãos, sem jamais esmorecer na sua coragem e na sua fé em Deus e na dedicação àqueles que, de todas as formas, dependiam dela.
Por volta de 1912, Zilda Gama já era adepta da Doutrina Espírita, “embora não ostensivamente”, como ela própria declara no prefácio de “Na Sombra e na Luz”. Em fins do referido ano, combalida por íntimos dissabores, sentiu que alguma entidade do mundo invisível desejava corresponder-se com ela.
Pegou do lápis, e prontamente lhe veio, pela psicografia, salutar conselho, dado por seu pai, e outro por sua adorada irmã, poetisa e violinista, Maria Antonieta Gama.
Pouco depois, passava ela a psicografar mensagens de “Mercedes” entidade que lhe foi de inexcedível dedicação, consorcia de todos os seus instantes de dor e de raras alegrias, enfim, um dos seus mais desvelados guias espirituais e que lhe revelara a importante missão que o Alto lhe reservava no Espiritismo.
Com surpresa, ainda no ano de 1912, Zilda Gama psicografava a primeira mensagem assinada por Allan Kardec. Eis como ela relata o fato:
“Intensa foi a minha emoção, que me sensibilizou até às lágrimas, e, mentalmente, disse-lhe que não me considerava na altura de desempenhar a contento a excelsa quão arriscada incumbência de que me dera conhecimento a piedosa ‘Mercedes’. Ele ponderou sobre a responsabilidade dessa missão espiritual; prometeu coadjuvar-me para que eu a executasse satisfatoriamente, terminando, com austeridade, a sua inolvidável mensagem datada de 27 de dezembro de 1912, inseria em “Diário dos invisíveis”, 1929:
“Sobre tua fronte está suspenso um raio luminoso, que te guiará através de todas as dificuldades, de todos os obstáculos, e será a tua glória ou tua condenação — conforme o desempenho que deres aos teus encargos psíquicos. Cinge-te de coragem, fé, benevolência, cumpre sem desfalecimento, e sem deslizes, todos 05 teus deveras sociais e divinos, e conseguirás ser triunfante.”
Durante quinze anos, conforme declara a própria Zilda Gama, o Espírito Allan Kardec assumiu a direção dos seus labores espirituais, orientando, aconselhando, esclarecendo, tendo sido várias as provas que vieram confirmar a sua supremacia espiritual sobre as demais entidades comunicantes. Assinadas por ele, há algumas comunicações no livro “Diário dos Invisíveis”, publicado pela Editora Pensamento.
Em 1916 ou 1917, os Espíritos informaram à médium que ela iria psicografar uma novela, fato que a deixou perplexa e meio descrente. Mas, no dia e hora aprazados, Zilda Gama, sentindo-se como que impelida, passou a transportar para o papel, rapidamente, tudo quanto constituía o início de um romance. Não menos foi sua surpresa quando o Espírito comunicante se assinou — Victor Hugo!
Sob o impulso vibratório desse genial escritor francês do século XIX, um dos maiores expoentes da literatura moderna, dentro de pouco tempo a obra estava concluída, recebendo o seguinte título: “Na Sombra e na Luz”. No “In Limine” a essa novela, a médium reporta-se a curiosos e interessantes pormenores sobre o recebimento e da revisão das páginas psicografadas.
Sob a tutela do Espírito Victor Hugo, vieram a lume, além de “Na Sombra e na Luz”, novela considerada, pela crítica, a sua obra-prima, traduzida para o Esperanto pelo Prof. Porto Carreiro, os seguintes romances editados pela Federação Espírita Brasileira — FEB — “Do Calvário ao Infinito”, “Redenção”, “Dor Suprema” e “Almas Crucificadas”.
Outros livros psicografados foram impressos por editoras diferentes, a exemplo do “Diário dos Invisíveis”, permanecendo inéditos alguns poucos mediúnicos, bem como várias obras poéticas e pedagógicas de sua autoria.
Zilda Gama foi, no Brasil, a primeira médium a obter no mundo espiritual uma vasta e substancial literatura espírita, tendo causado sensação as suas obras mediúnicas quando apareceram, quer no ambiente espírita, quer entre os leitores leigos.
Em junho de 1940, Zilda Gama se transferiu para a cidade do Rio de Janeiro; em março de 1955 mudou-se para Mesquita, RJ, e, em 1957, retornou ao Rio de Janeiro. Nos últimos dez anos, vivia numa cadeira de rodas, ou presa ao leito, após o dramático derrame cerebral que lhe embotou o raciocínio, “antes iluminado paios fachos da inspiração espiritual (REFORMADOR, abril de 1969), residindo, então, em companhia de seu dedicado sobrinho Mário Ângelo de Pinho, cercada pelo afeto dos familiares e a admiração e o respeito de quantos a conheceram, pois, integralmente consagrada ao serviço do Senhor, Zilda Gama não contraiu matrimônio.
No dia 10 de janeiro de 1969, com 91 anos, Zilda Gama retorna à Pátria Espiritual, desligando-se dos despojos carnais alquebrados pela doença e pelo tempo. O seu corpo foi sepultado no dia seguinte (11-01-1969), no Cemitério São Francisco Xavier.
“Zilda Gama” — escreveu o Dr. Francisco Klõrs Werneck, seu primo-irmão, em ‘IMPACTO’1 — “foi sempre um padrão de honra e honestidade para a mulher espírita e eu não preciso dizer que o Espiritismo no Estado de Minas Gerais e em todo o Brasil, está a lhe dever algo que lhe perpetue o nome, embora ela nunca tenha pensado nisso.
“Foi uma grande antecessora de Francisco Cândido Xavier e é grande a falange de encarnados e desencarnados que se converteram ao Espiritismo graças aos seus romances mediúnicos.”
- Jornal Espírita que circulou na cidade de Salvador, BA, na década de 70.
(Fonte: As mulheres médiuns.)
Texto extraído do site da FEB: https://www.febnet.org.br/portal/wp-content/uploads/2019/07/Zilda-Gama-ok-2.pdf